quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quarta a Óleo

LA PERSISTENCIA DE LA MEMORIA / SALVADOR DALÍ



O principal expoente do surrealismo nas artes visuais dizia-se capaz de criar associações entre fatos e imagens que nada teriam a ver com a lógica - o que em muito difere do diagnóstico psiquiátrico da loucura, de fato. Ao buscar a não-racionalidade, Dalí marcou a história da arte com incursões por desejos incoscientes retratados de forma quase fotográfica.

Salvador Dalí tinha consciência de sua genialidade. Considerava seu trabalho como antiarte, livre de "considerações plásticas e outras besteiras". Preocupado com sua imagem, jamais se apresentava em público "civil", mas com seu "uniforme daliniano": o bigode curvado para cima e as roupas ostensivamente elegantes. Essa imagem irônica, somada a sua aversão política, provocaria sua expulsão do movimento surrealista em 1936. Ele que havia se juntando ao grupo em 1929. Influenciado pelas teorias psicanalíticas do austríaco Sigmund Freud, o movimento buscou explorar a psique na arte, englobando o sonho e o incosciente.

Um emblema desse movimento em direção ao onírico é o quadro A Persistência da Memória (1931), conhecido como "o quadro dos relógios derretidos". Os relógios, instrumentos mecânicos e rígidos, traduzem a passagem do tempo. Ao dar-lhes formas fluidas e orgânicas, o pintor remete-os a um universo de prazer, ressaltando a fugacidade da memória. Formigas - recorrentes em suas pinturas como símbolo da decadência - atacam o único relógio de aparência ainda sólida. A cabeça adormecida ao centro é interpretada como um perfil distorcido do pintor. A paisagem ao fundo, uma de suas memórias de infância, dá ao conjunto um ar de verossimilhança, conferindo ao sonho uma aprênica tangível.

O óleo sobre a tela é marcado pela meticulosidade técnica. Dalí buscava, por meio do cuidado com as formas e da representação minuciosa de pormenores, criar uma atmosfera realista. Ele via a pintura como "uma fotografia à mão e em cores". Ao conciliar o clássico com a arte de vanguarda, portanto, sua tendência surrealista se manifesta não pela técnica, mas pela temática trabalhada: a violência, o erotismo e o sonho.


"La única diferencia entre un loco y yo es que yo no estoy loco."
Salvador Felipe Jacinto Dalí i Domènech (1904-1989).



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